O avanço forte dos preços dos imóveis e terrenos no Brasil registrado no último ano tem levado alguns mais apavorados a já falarem na presença de bolhas no setor imobiliário tupiniquim. Mesmo sabendo da dificuldade de se identificar uma bolha (em geral, isso só ocorre depois que ela fura e deixa a economia em maus
lençóis), não creio que a alta de preços que vivenciamos possa ser tipificada de tal modo.
Uma bolha de verdade, daquelas que machucam, só infla com combustível especial. E esse combustível não é nenhum gás de nome imemorizável, mas sim a boa e velha expansão irresponsável do crédito, em geral acompanhada por taxas reais de juros muito baixas que distorcem os incentivos dos mercados na direção de
absorver maior risco nas carteiras, de modo a rentabilizá-las “apropriadamente”.
Mas no Brasil, apesar do crescimento recente, o crédito habitacional ainda é ínfimo como proporção do PIB, a seleção dos devedores envolve critérios muito mais rígidos do que os em vigor em outros países, e o percentual financiado pela instituição financeira nunca ultrapassa 70%. Contraste isso com empréstimos NINJA norte-americanos (da sigla em inglês: empréstimos para pessoas sem renda, sem emprego e sem ativos) e fica claro que estamos em terreno bem mais sólido. Além de tudo, parece esquisitíssimo falar em bolha de ativos em um país com os juros reais estratosféricos como os nossos e compulsórios para lá de elevados. Haja exuberância irracional para encher uma bolha nesse ambiente…
Meu palpite é que, tirando as oscilações de curto prazo que ninguém sabe explicar, o preço da terra e dos imóveis no Brasil seguirá tendência crescente por muitos anos ainda — por motivos estruturais. A demanda mundial por alimentos e energia, e nosso aprimoramento institucional que derrapa mas segue em frente, são as causas principais por trás dessa tendência.
Fonte: Revista Época - 07/02/2011
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